quarta-feira, 16 de maio de 2012

"O armarinho rosa": um pensamento sobre consumismo/publicidade infantil


Eu sou estudante do 8º semestre de publicidade, mas antes de querer ser e de estar me formando nessa especialidade, eu tive pais muito conscientes na minha infância, que falavam abertamente(nem por isso de maneira grossa) que não iam comprar o armarinho da Barbie, com pecinhas fofas e em miniatura do jeito que eu gostava, porque este custava caro e eles não tinham dinheiro para me dar. Eu chorava? Óbvio que eu chorava. Eu era uma criança que tinha amiguinhas que tinham o armarinho e que, apesar de ser estimulada “precocemente” a ter consciência sobre a situação financeira dos meus pais, eu tinha um desejo pelo armarinho rosa com pecinhas cuti-cuti, fofinhas.

Mas de onde veio essa minha vontade? Pois as pecinhas do armário, eu tinha quase todas: os copos, garfos, colheres e pratos, só que eles foram comprados separados, não arrumadinhos daquele jeito e não eram produtos exclusivos e caros Matel. E quem foi que colocou na minha cabeça que se as minhas coleguinhas tinham, eu também tinha que ter?

No dia em que eu chorei no meio do centro da cidade e fui magoada para casa com os meus pais, foi o dia em que o fator amolação(aquilo que a criança faz de ficar pedindo, pedindo, pedindo direto) venceu a pequena consciência que eu tinha sobre as condições da minha família. E esse fator possivelmente, ou quase com certeza, foi imposto por algum anúncio que eu vi, por algum comportamento “eu-tenho-você-não-tem” de alguma colega, o qual, também é influenciado pela publicidade.

Pois bem, então quer dizer que eu quero acabar com a publicidade da Matel, da Estrela, da Tang, falir todas e deixar milhões de crianças sem brinquedo?

Sim e mais ou menos.

O que nós do GRIM propomos é acabar com a Publicidade Infantil e somos contra a criação do desejo(mais pra necessidade?) excessivo, que faz com que a criança só se ache “feliz”, se ela tiver todos aqueles brinquedos da vitrine.

O que esperamos é que os pais sejam sensatos e saibam que seus filhos não precisam dessa quantidade de brinquedos, que só porque ele, o filho, não tem aquele boneco de um metro e meio do Ben 10, ele deva ser desmerecido pelos colegas, que se todo dia e toda hora o seu filho beber suco Tang, ele ficará acostumado aquilo e provavelmente não vai gostar de um suco natural, etc.

Justamente por esperarmos essa consciência dos pais, é que propomos que a publicidade seja dirigida a eles. Então no intervalo do jornal Nacional o pai ficará só vendo anúncios de brinquedos e alimentos voltados pra criança?

E por que as crianças, no horário dos seus programas - pensando nos canais comerciais – podem ser “bombardeadas”? E por que um pai não pode passar 3 minutos vendo produtos rosa e carrinhos, mas quer que sua filha ou filho veja e depois o vá “perturbar” por um?

Ao imaginarmos uma dinâmica em que a publicidade é voltada para os pais, em que ela passe em horários em que eles assistam TV, nós podemos supor que, pelo menos, estas publicidades não serão tão absurdamente frequentes, uma disputando com a outra como é no horário da programação infantil. E por mais que nós saibamos que na hora da novela das 21h, a criança também estará acordada, porém com a consciência esperada, a companhia dos pais e com uma conversa a respeito daquele produto, haverá uma facilidade desta entender se precisa mesmo ou não daquele brinquedo/alimento. Bem diferente dela estar vendo sozinha e apenas absorvendo aquela publicidade sem nenhum diálogo, não é mesmo?

Até hoje, 16 anos depois, eu nunca comprei o armarinho rosa da Barbie e após esse episódio, nunca mais briguei com meus pais por causa de algum brinquedo que eles não puderam comprar. Eu entendi e qualquer criança entende, é só conversar e fazer com o que o amor e a companhia sejam mais importantes do que qualquer produto de plástico. 


8 comentários:

  1. Jê, que coisa boa ver um artigo como este assinado por uma futura publicitária. Convido a conhecer o movimento Infância Livre de Consumismo no Facebook e no twitter @infancialivre

    O ILC é um coletivo de mães, pais e cidadãos inconformados com a veiculação da publicidade infantil.

    Vamos tuitar seu artigo, tá?

    obrigada.

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    1. Obrigada, Vanessa!
      Já acompanho o movimento e o divulgo no site do Grupo de pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia, o GRIM.
      Qualquer coisa que vocês queiram compartilhar, é só mandar um e-mail para jeanne.gf@gmail.com.
      Muito obrigada novamente!

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  2. Jê, que coisa gostosa de ler esse seu texto. Parabéns! Aproveito para convidá-la a participar de um forum virtual que está rolando na rede social YuBliss, justamente sobre Criança e Consumismo. Para participar é preciso se logar, mas o cadastro é rápido. Sua presença lá seria importante, já que você é do meio publicitário.
    Aqui o link:
    http://www.yubliss.com/forum/1539/
    Abraço!
    Chico.

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    1. Muito legal! Participarei sim, Francisco. Obrigada pelo convite!
      Acabei de entrar e vi que citaram o meu texto! Super bacana!

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  3. olá, meu nome é Camila Sousa. eu como mãe não acho que seria 'a' solução. não que eu não queira ser importunada afinal, nem tv assisto mas, de qualquer forma seria uma alternativa...o que acontece na verdade é que além dos bombardeios de brinquedos, chocolates (nada pior que propaganda de chocolate na hora do almoço, né! de tanta raiva jurei que nunca mais compro rs)tem também muitas propagandas dirigidas à mãe: um belo dia meu filho chegou e disse: "mãe, não existe mulher feia, existe mulher mal arrumada" que é isso, gente... enfim, o que quero dizer é que dia desses vi uma ideia muito boa: da marca ficava apenas o nome, embaixo, na tela e no final, enquanto o tempo da propaganda era utilizado pra mostrar algo interessante pra criança, desde dicas de higiene, preservação, natureza, bichos, adubo, esse tipo de coisa. confesso que fiquei surpresa e tenho certeza que com propostas assim as marcas demonizadas ganhariam minha admiração prontamente, rendendo quem sabe uns brinquedinhos ;)

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    1. Oi, Camila.
      Felizmente algumas marcas já estão se dando conta disso. Essa semana eu vi uma campanha de biscoitos para crianças passando no intervalo do Jornal Nacional.
      Mas devemos sempre estar atentos aos "jeitinhos" que algumas dão, não é mesmo?

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  4. Olá, muito bom o seu texto! Parabéns! Sou estudante de Com.Social-Rádio e tv na UFPE,e me interesso muito por este tema. Estou no oitavo período tmb e vou começar minha monografia, talvez eu escreva sobre a Regulação dos meios de comunicação, mas meu projeto inicial foi sobre a publicidade infantil. Acabei não conseguindo focar me uma coisa só.Acho que vou deixar para um futuro projeto para o mestrado. Poderíamos trocar "figurinhas" e eu gostaria de saber mais sobre o Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia da Universidade Federal do Ceará. Abraços. Débora Santos.

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    1. Olá, Débora! Você vai pro Intercom Regional aí em Recife?
      Eu vou, aí podemos sim trocar essas figurinhas e pessoalmente. =D
      Eu e mais outro membro do GRIM estaremos apresentando trabalhos.
      Para saber mais sobre o GRIM, acessa o site www.grim.ufc.br lá tem bastante conteúdo sobre mídia, infância e consumo.
      Qualquer coisa, pode mandar e-mail para mim também: jeanne.gf@gmail.com

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