sábado, 26 de maio de 2012

Como seria uma aula legal?


Você saberia dizer qual é a música do momento? E qual o personagem mais legal da novela das 21 horas? E quando foi que terminou a Primeira Guerra Mundial? Agora complicou? 
Para alguns, a terceira pergunta pode ser bem difícil de responder. Mas por quê? Será que é porque é mais fácil escutar rádio ou assistir TV do que ler um livro de História?
Nenhuma das alternativas acima.

Para muitos estudantes saber quando ocorreu o fim da Primeira Guerra Mundial é encarado como uma obrigação escolar e ouvir uma música ou vê uma novela não, pois estes são vistos como diversão, lazer. Então quer dizer que estudar é chato? E como seria uma aula legal?

Essa é a pergunta que todos os professores fazem antes de preparar uma aula. E sabe por quê? Porque hoje em dia não é fácil atrair a atenção de nós, estudantes. Somos muito mais informados do que as crianças e os jovens dos anos 60, 70, 80...
E isso acontece porque vocês estão lendo mais. Isso mesmo.
Ler não é só se debruçar sobre um livro. A leitura se faz também através de jornais, revistas, imagens, vídeos, quadrinhos e, olha só, através de sites, blogs e mídias sociais.
Você tem contato com tudo isso? Então você é um leitor também.

E o acesso a esses diversos conteúdos faz de nós estudantes mais atualizados, mesmo que a maioria das informações sejam facilmente esquecidas ou que não nos sejam extremamente útil para o nosso dia a dia. Afinal, a gente pode saber tudo sobre a novela das 21h, mas saber quando terminou a Primeira Guerra Mundial é muito importante para a gente tirar nota boa, não é?

E esse a aula de História fosse dada através de uma revista em quadrinho ou postada de um blog, será que a gente aprenderia rapidinho e não esqueceria?

Autora: Jeanne Gomes

Texto publicado no site: www.entrelace.org.br

quarta-feira, 16 de maio de 2012

"O armarinho rosa": um pensamento sobre consumismo/publicidade infantil


Eu sou estudante do 8º semestre de publicidade, mas antes de querer ser e de estar me formando nessa especialidade, eu tive pais muito conscientes na minha infância, que falavam abertamente(nem por isso de maneira grossa) que não iam comprar o armarinho da Barbie, com pecinhas fofas e em miniatura do jeito que eu gostava, porque este custava caro e eles não tinham dinheiro para me dar. Eu chorava? Óbvio que eu chorava. Eu era uma criança que tinha amiguinhas que tinham o armarinho e que, apesar de ser estimulada “precocemente” a ter consciência sobre a situação financeira dos meus pais, eu tinha um desejo pelo armarinho rosa com pecinhas cuti-cuti, fofinhas.

Mas de onde veio essa minha vontade? Pois as pecinhas do armário, eu tinha quase todas: os copos, garfos, colheres e pratos, só que eles foram comprados separados, não arrumadinhos daquele jeito e não eram produtos exclusivos e caros Matel. E quem foi que colocou na minha cabeça que se as minhas coleguinhas tinham, eu também tinha que ter?

No dia em que eu chorei no meio do centro da cidade e fui magoada para casa com os meus pais, foi o dia em que o fator amolação(aquilo que a criança faz de ficar pedindo, pedindo, pedindo direto) venceu a pequena consciência que eu tinha sobre as condições da minha família. E esse fator possivelmente, ou quase com certeza, foi imposto por algum anúncio que eu vi, por algum comportamento “eu-tenho-você-não-tem” de alguma colega, o qual, também é influenciado pela publicidade.

Pois bem, então quer dizer que eu quero acabar com a publicidade da Matel, da Estrela, da Tang, falir todas e deixar milhões de crianças sem brinquedo?

Sim e mais ou menos.

O que nós do GRIM propomos é acabar com a Publicidade Infantil e somos contra a criação do desejo(mais pra necessidade?) excessivo, que faz com que a criança só se ache “feliz”, se ela tiver todos aqueles brinquedos da vitrine.

O que esperamos é que os pais sejam sensatos e saibam que seus filhos não precisam dessa quantidade de brinquedos, que só porque ele, o filho, não tem aquele boneco de um metro e meio do Ben 10, ele deva ser desmerecido pelos colegas, que se todo dia e toda hora o seu filho beber suco Tang, ele ficará acostumado aquilo e provavelmente não vai gostar de um suco natural, etc.

Justamente por esperarmos essa consciência dos pais, é que propomos que a publicidade seja dirigida a eles. Então no intervalo do jornal Nacional o pai ficará só vendo anúncios de brinquedos e alimentos voltados pra criança?

E por que as crianças, no horário dos seus programas - pensando nos canais comerciais – podem ser “bombardeadas”? E por que um pai não pode passar 3 minutos vendo produtos rosa e carrinhos, mas quer que sua filha ou filho veja e depois o vá “perturbar” por um?

Ao imaginarmos uma dinâmica em que a publicidade é voltada para os pais, em que ela passe em horários em que eles assistam TV, nós podemos supor que, pelo menos, estas publicidades não serão tão absurdamente frequentes, uma disputando com a outra como é no horário da programação infantil. E por mais que nós saibamos que na hora da novela das 21h, a criança também estará acordada, porém com a consciência esperada, a companhia dos pais e com uma conversa a respeito daquele produto, haverá uma facilidade desta entender se precisa mesmo ou não daquele brinquedo/alimento. Bem diferente dela estar vendo sozinha e apenas absorvendo aquela publicidade sem nenhum diálogo, não é mesmo?

Até hoje, 16 anos depois, eu nunca comprei o armarinho rosa da Barbie e após esse episódio, nunca mais briguei com meus pais por causa de algum brinquedo que eles não puderam comprar. Eu entendi e qualquer criança entende, é só conversar e fazer com o que o amor e a companhia sejam mais importantes do que qualquer produto de plástico. 


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Desafios? A gente dá nossos pulos.

Muita, mas muita coisa mesmo rolou nesse tempo todo (5 meses!) que não escrevia uma linha por aqui.
Ainda bem, né? Quer dizer que eu andava muito ocupada e ocupações sempre são boas. =)
Mas vamos aos fatos.

Fato I - Oficina sobre Sustentabilidade no bairro Canindezinho - Fortaleza.

Pois foi. Eu nunca havia realizado uma oficina sobre qualquer coisa que envolvesse meio ambiente. Não porque eu não quisesse ou não sabia como proceder com essa temática, mas simplesmente porque não tinha rolado uma oportunidade. Mas, como a vida sempre nos traz uns desafios, então fui. 
Realizada com o apoio do Centro Cultural Bom Jardim, a oficina de fanzine foi um dos módulos de uma grande aglomeração de oficinas(cadernos artesanais, pinturas etc). Porém, como tudo na vida, na MINHA VIDA especialmente, nada foi fácil. 


Desafio I - Duas turmas uma só conversa.

A turma era formada por várias faixas etárias. Por que foi um desafio? Porque eu nunca tinha trabalho em uma situação assim. O público das minhas oficinas geralmente são crianças e jovens, além disso, a maioria dos espaços são escolas ou universidades. OK, você pode achar que não é lá tão difícil ensinar a fazer fanzine, ao mesmo tempo, para pessoas de diferentes idades. Já para algumas outras pessoas, isso se torna super complicado. E, lógico, como tudo na minha vida... eu só escutava gente me falando que eu iria quebrar muito a cabeça nessa situação. Então, fiquei logo muito tensa.
Mas, como Deus é bom(Amém!), eu tive uma sorte tremenda de pegar pessoas ótimas, tanto os novinhos quantos os adultos para se trabalhar. Tinham crianças de 6 anos, adolescentes e idosas de 65, 70 anos. Viu a diferença? 
Aí você pensa: "E aí, como falar para esse público tão diversificado?"


Simples, trate todos de igual para igual. Não pense que só porque aquele garoto tem 10 anos que ele não vai entender sobre assuntos como sustentabilidade, responsabilidade ambiental etc. Da mesma forma, não pense que uma senhora de 60 anos não vai entender sobre a importância da reciclagem para o futuro ou que ela não vai entender o filme
Wall-E (reproduzido na oficina). Após eu compreender que não seria adequado eu utilizar duas linguagens, uma para os mais novos e outra para os mais velhos, fui testando "trejeitos" de abordar, discutir e acabei conseguindo adaptar uma forma de explicar o que era e como fazia fanzine agregada à conversas sobre a importância de comportamentos responsáveis ecologicamente. Linguagens iguais, respeitos iguais.

Desafio II - Pesado, realmente pesado!

Além da turma de crianças e idosos, tinha uma turma que eu não enfatizei muito aqui, pois era muito pequena(apenas 4 pessoas), que era a turma dos adolescentes. Não me preocupei muito com esses, certo, achei que como todo jovem, eles iam pegam tudo no ar. Aí...como a minha vida adora um desafio...
Eis que uma das pessoas, uma jovem, de mais ou menos 16 ou 17 anos, muito calma e quieta não sabia ler e nem escrever! Poxa vida, mas o que tem de errado nisso, a não ser o fato já conhecido? Certo, não era para ser uma surpreeeesa, mas eu sou estudante de PUBLICIDADE, gente! Eu não tenho técnica nenhuma de Pedagogia(a não ser as super úteis em oficinas) para auxiliar alguém em uma condição dessa. Fiquei com um medo tremendo! Vai que eu ensino errado, vai que eu traumatizo essa menina ensinando coisas que não são próprias para uma alfabetização, eu não tenho jeito! Eu não sei o que fazer!! (Era tudo o que eu pensava).
Como Deus é muuito bom(Amém! Amém!) e uma das idosas participantes era uma professora aposentada, tudo foi se resolvendo! UFA! 
Na hora da produção do fanzine, eu fiquei mais preocupada, claro, em como a adolescente ia fazer, já que além de enfeitar e colar figuras relacionadas à temática, eu pedia para escrever o porquê daquelas imagens estarem no fanzine, ou seja, relacionar imagem e texto.
Aí, como uma professora muito atenta, a Dona Rita auxiliou a adolescente usando a técnica de colagem. Pois ao conversar com ela, percebemos que ela identificava as letras, mas não sabia juntá-las para formar uma palavra e muito menos formular frases. Ou seja, ela só sabia olhar e dizer qual era a letra A, B, C, D... etc. Percebendo a minha angústia e esse pequeno avanço da menina, a Dona Rita ajudou-a e explicou que era só ela juntar as letrinhas que ela iria formar a frase que ela queria. Então ficou assim, eu perguntava à ela o que ela gostaria de escrever, ela me dizia, eu escrevia em um papel, e ela ia identificando letra por letra. Com isso, bastava era repetir as identificações recortando as letrinhas das revistas. Pronto! Só sucesso! Ela fez 3 páginas de fanzines assim! Demorava um pouco mais, sim, demorava, mas era gratificante ver que ela conseguia se expressar através das palavras dela. Que ela conseguia expôr o que ela pensava. Cheio de letras grandes e pequenas, de fontes diferentes, mas a ideia daquela frase era dela! E isso era o que importava.




Depois desses desafios, confirmei a minha velha teoria de que a gente não deve seguir sempre um padrãozinho. Achar que tudo vai ser do jeitinho como sempre é. Devemos lembrar que cada lugar é único, cada grupo tem suas peculiaridades e cada pessoa tem sua forma de se expressar. Dá pra juntar um pouquinho de tudo, fazer umas cambiarras, uns  mashups (próximo post), mas cada um é cada um.

Amém, Amém, Amém!